Durante anos Leôncio conviveu com aquela imensa juba dourada. Cabelos
lisos, sedosos e brilhantes para inveja do amigo porco espinho que
visitava o cabeleireiro semanalmente na tentativa de diminuir o topete
espetado. Já ele, nunca havia pisado em um salão. Não precisava de
tonalizante, era loiro por natureza. E nunca havia visto uma tesoura
antes na sua frente, até o dia que assistiu a um jogo de futebol pela
televisão e se deparou com um jogador de juba engraçada. “Estilo
moicano, última moda no reino humano”, explicou a Gazela, vaidosa que só
ela. Por dias ficou namorando sua juba pelo espelho. Estava cansado
daquele cabelo comprido e das pontas quebradiças, e o topete daquele
jogador não saía da sua cabeça. “Quando tem jogo de novo?”. Alguém
aconselhou, “Não precisa esperar. Vá até o limite da floresta, e observe
na cidade as crianças chegando para a escola”. E assim fez. De trás de
uma árvore, ficou escondido vendo ‘meninos moicaninhos’, com mochilas
recheadas de caneleiras e chuteiras, passarem para lá e para cá. “Não
posso ficar fora dessa moda”. Marcou hora no salão do Macaco Biaggi, e
por coincidência, no mesmo horário que Gina Girafa, colunista social do
maior jornal do reino, fazia suas patas. Bastou um telefonema dela, para
que os Sagüis Paparazzis chegassem e disputassem a pulos os melhores
lugares para a foto do ano: “O cabelo moicano do Rei Leão”. Lá dentro,
muitas tesouradas e era uma vez uma juba. O amigo Espinhoso acompanhou e
se identificou com o corte. “Está parecido com um porco espinho ou eu é
que estou parecido com um leão?” Avisou Macaco Biaggi que nunca mais
alisaria os cabelos. Leôncio olhou para o espelho, para a juba no chão e
aprovou o novo look. Sentiu-se mais leve, mais disposto e até atlético.
Saiu do salão sob chuva de flashes, e na primeira entrevista
pós-moicano, avisou que aguardava ansioso a convocação para a Seleção
Felina de Futebol.
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