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terça-feira, 31 de maio de 2011

Joaninha sem bolinha

Chegou o grande dia. O dia do baile da Joaninha. Foram meses de preparação para aquela que era prometida ser a festa do ano do Reino Insetário. Todos os insetos haviam sido convidados, das saltitantes pulgas, que pularam metros quando receberam o aviso, às lesmas lerdas, que receberam o convite três semanas antes para conseguirem chegar a tempo. Não se falava em outra coisa nos quatro cantos da cidade. Baratinhas, borboletas, grilos, centopéias pra lá e pra cá no shopping à procura da roupa ideal. Dona Baratinha vai de casaca marrom. Sr. Grilo se comprou um terno verde. A perua Borboleta de vestido estampado. E os sapatos? Bom, os sapatos estão em falta - a Sra. Centopéia comprou todos. Mas a curiosidade de toda a cidade era o vestido da Joaninha. Ela que possuía o título de dama mais elegante da região, com seus vestidos de bolinhas, ora vermelhas, ora amarelas, como viria vestida no dia do seu baile? Só a Formiga costureira sabia qual era o modelito, que demorou meses até ficar pronto. Joaninha passou o dia no cabeleireiro. Teve dia de princesa. Tomou banho de banheira, aparou as antenas e fez um lindo penteado com laço de fita. E então, anunciaram a chegada do vestido, que veio dentro de uma caixa, escoltada por Vespas de ferrão em punho. “Ohhh”, exclamaram todos quando viram o vestido pronto. Era um vestido rodado, de paetê, e com aplicação de bolinhas coloridas da badaladíssima grife Arac&Nídeo. Até Gisele Lagarta já desfilou para eles. As bolinhas eram uma de cada cor, amarela, vermelha, verde, azul, e… pink? Cadê a bolinha pink? Faltava uma bolinha no vestido da Joaninha. “Procura pelo chão, pode ter caído”. Nada. “Ah, mas uma bolinha só ninguém vai reparar”. Dona Abelhuda, dona do salão, tentou acalmá-la. Em vão. Joaninha sem bolinha estava aos prantos. Irmãs Cigarras saíram gritando, e espalhando para todos que uma bolinha havia sumido do vestido da Joaninha e que uma recompensa seria dada a quem a encontrasse. Não dava mais tempo para cancelar o baile, mas ela também não poderia aparecer com uma bolinha a menos no grande salão. Arac e Nídeo estariam presentes, e certamente teriam um chilique se vissem a sua criação inacabada. “Dona Joaninha, está? Eu tenho notícias sobre a bolinha”. Dona Formiga entrou com agulha e linha na mão, e com vergonha avisou que havia esquecido de aplicá-la ao vestido. Pronto, estava resolvido. Era novamente um autêntico Arac&Nídeo. “Mas espera um pouco” – falou Joaninha para o espelho – “agora toda a cidade já sabe qual o modelo do meu vestido?” “Dona Formiga, preciso de um favor. Arac & Nídeo que me perdoe, mas eu quero é arrasar. Arranque todas as bolinhas do vestido. Joaninha Sem Bolinhas é o meu nome hoje, e pretinho básico está sempre na moda”.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Bom trabalho, Sol

O relógio desperta. Mais um dia vai começar. É hora de trocar de turno com a amiga Lua. “ Bom descanso, Lua”. “Bom trabalho, Sol”. De trás da montanha, dou uma espiada. É muito cedo ainda, e a maioria das pessoas ainda dorme. Antes de raiar, dou uma espreguiçada. Estico e alongo meus raios. O turno é puxado e vai demorar algumas horas até a Lua voltar. Pelo jeito hoje nem uma soneca eu vou tirar. As nuvens não vieram trabalhar. Você guarda um segredo do Sol? Não conta pra ninguém, mas quando as nuvens me escondem, eu tiro um cochilo. Às vezes dura o dia inteiro, quando elas resolvem ficar para conhecer a cidade. Mas quando elas estão só de passagem, a soneca é bem rápida. Não dá tempo nem de roncar e elas gentilmente me acordam para eu não ser pego no flagra. “Ei Sol, estamos de saída. Hora de voltar a brilhar”. E eu reapareço com a cara ainda meio amassada, mas logo me torno grande e poderoso. Cheio de energia para aquecer o dia. Enquanto te conto esse segredo, saio de trás da montanha. Em pouco tempo ocupo minha cadeira no topo mais alto do escritório do céu. Dona Gaivota me traz uma xícara de café. Senhora Andorinha dá o aviso: “avião se aproximando”. Zummm! O barulho é tão alto que quase me derruba da cadeira. “Boa viagem, amigos”. E então, dou início ao meu trabalho. Tarefa do dia: iluminar a cidade. Raios a postos. Segunda tarefa do dia: aquecer as pessoas. Trabalho concluído: aquecer o coração das pessoas. Quem é que não fica feliz em dia de sol? Final do expediente. Hora de se retirar, bem devagar. Dona Lua já está a postos para ocupar a cadeira. Até amanhã, com ou sem nuvens. O Sol dá boa noite!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Papo de bicho


Reunião urgente na fazenda. Papo sério de bicho. Quá, quá, chora a pata. Óinc, óinc, não entende o porco. Mú, mú, pergunta a vaca. Mé, mé, responde a ovelha. Piu, piu, entrega o passarinho. Pocotó, pocotó, dispara a égua. Cocoricóóó, o galo anuncia o fim do casamento. Em papo de gente, o desfecho: o pato largou a pata pra surpresa do porco e que fez a vaca perguntar o que a ovelha não sabia, mas que o passarinho desconfiava da culpa da égua, que fugiu com o noivo. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Baldinho de lágrima

Não gosto de ver adultos chorando. Fico triste. Adultos não deviam chorar! Tudo bem que nós crianças também choramos, e muito. Mas o nosso choro é diferente. É um choro necessário para chamar atenção da mamãe, como um despertador para a hora da mamada ou para a troca da fralda. Às vezes também sentimos dor, uma cólica, dor de ouvido, ou quando estamos manhosos; mas até mesmo esse choro é diferente das lágrimas que vejo despencar dos olhos dos mais velhos. Que gosto tem essas lágrimas? Amargas, se provocadas por uma tristeza; ou doces, se por uma alegria? Mesmo que alegre, lágrima de adulto é aflição. Uma vez perguntei para mamãe de onde ela vem. “Do fundo do coração”. Se vem bem do fundo, é um sentimento guardado, esquecido, que para se libertar, faz o coração doer. A verdade é que eu queria, com um baldinho, sair por aí recolhendo lágrimas. Aí jogaria todas elas em um rio. Um rio de lágrimas, com forte correnteza, para levá-las embora, pra bem longe das pessoas que eu amo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Rebola minhoca

Lola, a minhoca, estava um dia trabalhando em sua terra fofa. De repente tudo ficou escuro. Foi parar dentro de uma lata de alumínio com outras colegas minhocas.  “- Onde estamos?”.“ – Parece uma lata”. “– Ei, pára de chacoalhar, estou ficando tonta, muito tonta....” E pá! Lola desmaiou. Acordou pendurada pela boca em um anzol, pronta para ser mergulhada no rio. Não conseguia falar. Precisava gritar, pedir socorro, e o único jeito que encontrou foi rebolar. E rebolou. Bundinha pra lá, bundinha pra cá. Pra frente e pra trás. Não conseguiu se soltar, mas chamou a atenção do pescador, que achou graça. Com o dedo a cutucou, como se pedisse bis – e Lola rebolou em mais uma tentativa frustrada de fuga. Lola cansou, desistiu. Era chegado o fim. Em minutos seria mergulhada nas águas gélida do rio e se tivesse sorte, seria abocanhada por um peixe que passava faminto. Assim, sem dor, como ela merecia – há anos havia sido eleita a melhor adubadora de terras daquele jardim. Fechou os olhos, ensaiou uma prece e esperou pelo pior em três, dois, um. E nada. Sentia seu corpo ainda suspenso no ar. Teria sido tão rápido assim? Abriu um olho, depois o outro, e se deparou com uma plateia de pescadores, que olhavam para ela com olhos admirados. O pescador, dono do anzol, se aproximou. Apontava para Lola e falava dela para seus amigos.  Estava anunciado o início do show. Com um dedo a cutucou, e Lola, recomeçou a rebolar. Bundinha pra lá. Bundinha pra cá. Pra frente. Pra trás. E clap, clap, clap, uma salva de palmas.  Lola, de comida de peixe havia virado estrela.  

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Casinha maluca


Era uma casa muito engraçada, mas tinha teto e tinha parede.
E tinha boca, e tinha nariz e no lugar de janelas, tinha olhos.

Janelas fechadas, casinha dormindo.
Uma janela aberta e outra fechada, casinha piscando.
Janelas abertas, casinha acordada.

Só pode entrar, se a boca se abrir
e da porta, uma língua de tapete surgir.  

Despertava a curiosidade de quem na frente passava
Era uma casa muito assanhada,
e gostava de conversar com as pessoas na calçada.

- Psiu. Tudo bem? 
- Quem está falando comigo se não tem mais ninguém além? 

Uma janela fecha, a outra abre.
- Será possível a casa ter piscado e isso ser verdade?

- Maluco devo estar,
a porta se abre e a casa começa a falar.

- Aceita um convite para uma xícara de chá?
É só dizer sim e um tapete vermelho se desenrola já. 

- Sim, eu aceito o agrado,
mas, se eu entrar serei devorado?

– Não, depois de satisfeito, você será cuspido. 
Ops, quero dizer, devolvido ! 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Viagem de boné

Era um boné como outro qualquer. Largado em um canto da rua, esquecido. Certamente alguém perdeu sem perceber. Azul, bonito, brilhante, e por isso chamou a atenção dos garotos que jogavam futebol no campinho naquela manhã. “– Eu vi primeiro”. “– Não, mas eu é que peguei.” “– É meu, é meu” – e começou a disputa. Passou de mão em mão, até que parou na cabeça de Pedro. “– Ele fica bem mais bonito em mim e parece um boné que meu primo trouxe da Disney e...”.  E de repente, Pedro sumiu, como num passe de mágica, diante dos olhos arregalados da turma.  “– Pedro? Onde está você? Não estamos gostando dessa brincadeira”.  E Pedro e nem o boné apareceram. Ele aparece gritando dentro de um carrinho de montanha-russa. Está feliz. Na Disney. Era como um sonho, mas como ele teria parado nesse sonho? Começou a se perguntar. Lembrava apenas que minutos atrás ele estava na rua de casa, disputando com os amigos quem ficaria com o boné azul. Ah, o boné azul. Ele ainda estava lá, intacto na sua cabeça. Pegou com as mãos e ficou olhando fixamente para ele. “– Que boné bacana!”– um garotinho, de olhinhos puxados, se aproximou. “– Você comprou aqui? Lá no Japão não tem bonés assim”. Pedro colocou de volta o boné na cabeça “– Japão? Você mora no Japão?”  E sumiu novamente, deixando o garoto perplexo diante daquele sumiço. Japão é a próxima escala de Pedro. Rua movimentada e olhinhos puxados para todos os lados.  E o boné na cabeça. Se o Japão fica do outro lado do mundo, como em segundos ele havia parado lá? Lembrou que Japão foi a última palavra que disse antes de ser transportado. Desconfiou então que aquele não era um boné comum. Ele tinha poderes especiais, e que poderia levá-lo para onde ele desejasse. Bastava dizer o destino. Fez o teste. “–Paris, mamãe sempre fala de Paris”. E num piscar de olhos lá estava ele, minúsculo embaixo da Torre Eifel. “– Incrível!  Meus amigos não vão acreditar. Mas antes de voltar, vou viajar por aí mais um pouquinho. Quero ir para a Itália, terra do vovô!”. E Pedro reaparece de frente a um prato de macarronada. De barriga cheia, hora de fazer um exercício para queimar caloria. “– Vamos surfar, Havaí já!”. E ele é transportado para o topo de uma onda. “–Neve, eu nunca vi. Próxima parada, Antártida. Brrrr, que frio”. “–Sempre tive vontade de conhecer os leões bem de perto. África, aqui vou eu”. E ele aparece no meio deles. “-Eles são tão grandes, tão lindos, e... estão vindo em minha direção”. E Pedro começa a correr. “-Socorro! Casa, eu quero ir pra casa!” Última parada. Destino final. Pedro reaparece diante de seus amigos, que começam a abraçá-lo e a perguntar por onde ele havia andado. “–Bom, por onde eu começo? Eu fui conhecer o Mickey, comí um sushi no Japão, visitei a torre mais famosa do mundo em Paris, almocei uma bela macarronada na Itália, ‘peguei umas ondas’ no Havaí, brinquei com os pingüins da Antártida, e por último cheguei bem perto dos leões na África”. Todos estavam boquiabertos e concordavam que Pedro havia enlouquecido. “- E quem me levou pra dar esse passeio foi o Meu Super Boné”. Colocou as mãos na cabeça, e nada encontrou. Ele deve ter caído lá pela África enquanto fugia dos leões. Os amigos não acreditaram em Pedro, e caçoando dele deram as costas para o amigo. “–Nós aqui preocupados, e você chega inventando uma história dessas? Sua mãe não te ensinou que é feio mentir”? Foram caminhando para o campinho, rindo da história que Pedro havia contado.  E quando lá chegaram, estarreceram diante de um leão que brincava com um boné azul.

sábado, 7 de maio de 2011

O presente da mamãe

Vou sair com meu pai para comprar o presente da mamãe. Hoje é o dia dela. Papai me pergunta onde quero ir, o que quero comprar. Penso para responder. “Vamos ao shopping, mamãe gosta de bolsas e sapatos”. Tem mais disso do que eu tenho de brinquedos. Mas eu entendo, ela quer estar sempre linda. Não que para isso ela precise de sapatos e bolsas. Para mim, ela é naturalmente linda. Essa necessidade deve ser a tal da ‘compulsão feminina’ que papai sempre fala, e significa: ‘nossas mães terem mais bolsas e sapatos do que precisa’. Mas se é o que ela gosta, aquela bolsa parece combinar com ela. Não sei, talvez muito comum. O sapato é bonito, mas não me encanta. Sabe, o presente tem que me encantar, e não quero que ele seja ‘mais um’ por causa da tal compulsão falada lá em cima. Afinal, ele é para a mais encantadora das mulheres desse planeta. Papai arrisca uns palpites, mas acho que não vou seguir - aquele aspirador de pó que ele deu no aniversário dela não deixou mamãe muito feliz. Perfumaria - mas ela já é tão perfumada. Lojas de roupas - mamãe está sempre na moda. Utilidades domésticas nem pensar - nada que faça mamãe trabalhar. Olho para as vitrines, e o que vejo é o reflexo de um filho, cansado de caminhar pelos corredores de lojas e desiludido por não encontrar o melhor presente para a melhor mãe do mundo. Poderia não me preocupar. Se eu chegar em casa de mãos vazias, o discurso sincero será - que o maior presente da vida dela sou eu. Acredito nisso, mas não vou me enrolar em um laço de presente. Volto pra casa, na esperança de uma idéia que cruze meu caminho. Mas o que cruzou foi uma flor. Grande e de um vermelho tão intenso, quanto um coração. Eram centenas delas. Centenas de corações. Dá pra embrulhar? Não, não dá. Chego em casa e ela me espera. Abre os braços e me aperta. Certamente está agradecendo o presente sem laço de fita, eu. Mas eu tenho um presente. Pego sua mão, proponho um passeio e te entrego um jardim.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A menina que brincava de carrinho


Desde pequena ela ouvia todo mundo dizer - meninas brincam de boneca e meninos brincam de carrinho. Mas ela gostava mesmo é dos carrinhos do irmão. Natal e aniversário, lá vinha Papai Noel e parentes trazendo as mais variadas bonecas – boneca que fala, boneca que faz xixi, que come papinha, bate-palminha. Tinha todas as coleções. Será que não podiam inventar uma boneca que brinca com carrinho? Não vale aquelas bonecas louras em seus carros cor-de-rosa. Ela queria bonecas radicais, que dirigem máquinas possantes, rápidas como um foguete. Sonhava com isso, enquanto abria os pacotes e se deparava com mais uma boneca risonha dentro da caixa.  “Legal, obrigada”. Agradecia com sorriso de canto de boca e olhos esticados para o presente do irmão. E ele ganhava mais um carrinho para a sua super coleção de velozes. Aquele não era um mundo justo. Ela gostava de carrinhos e ganhava bonecas. Ele gostava de carrinhos e ganhava carrinhos. Não entendia o porquê dessa diferença. Ela até tentou brincar com suas bonecas por um tempo, mas se entediou em meio à papinhas e fraldas. Queria mesmo era os carrinhos do irmão. Mas era pegar um deles e ensaiar uma corrida – Bi bi fon fon!  – lá vinha a mãe com aquele papo que brincadeira de carrinho era para garotos. De um lado suas bonecas empilhadas, do outros os carrinhos estacionados. Olhou para um, olhou para o outro e teve a idéia de sua vida. Colocou cada boneca sentada em um carro, passou pela mãe na cozinha, buzinou e em alta velocidade -  Vrrrummmmm – avisou que estava atrasada para levá-las ao cabeleireiro.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Chuva de alegria

Com pés descalços, pula que pula na nuvem, como se fosse uma cama elástica. Ah, que fofinha e branquinha ela é. Pula e cai sentado. Pula e cai deitado. De frente. De costas. Nuvens até parecem algodão doce. Terá gosto a nuvem? Se tiver qual será o sabor? Coloca um punhado de nuvem nas mãos, e faz um bolinho. Está servido de um bolinho de nuvem? É como o bolinho de chuva. Vai, experimenta. Nham! Tem gosto de alegria. Me dá mais um pedaço dessa alegria. Poderia devorá-la inteira, mas aí posso cair e não vai sobrar nenhum pedacinho de nuvem pra brincar. Agora, sou um pirata. A nuvem pode ser um navio? Com as mãos, aperta daqui, aperta de lá, molda do seu jeito. Está aí o seu navio. Nuvens têm sabor e têm formas. E tem cor. De repente, ficou cinza. Ei você aí de baixo, prepara o guarda-chuva. Navio pirata manda avisar que vai chover gotas de alegria.