Ficava por horas apoiado na janela do quarto antes de dormir. Não
contava carneirinhos, contava estrelas. Uma a uma, com o dedo apontado,
até onde a olho nu pudesse alcançar. Eram seis mil no total, mas
contrariando a superstição, não tinha seis mil verrugas no dedo. Em
noites nubladas, usava o telescópio, presente mais que aguardado que
ganhara no Natal, e então a conta ultrapassava trinta mil os pontinhos
brilhantes no céu. Não precisa dizer que existia um sonho de quando
crescer virar astrônomo, e quando isso acontecesse descobriria enfim
quantas estrelas, ao total, brilhavam no universo. Enquanto isso se
auto-denominava “o guardião das estrelas” e só se deitava na cama quando
tinha a certeza de que todas elas estavam lá, a postos no alto,
vigiando seu sono. Em uma certa noite, uma surpresa. Contou três vezes,
com e sem telescópio, e constatou que dez estrelas faltavam no seu
pedaço de céu. Era uma noite de poucas nuvens. Estaria alguém roubando
as estrelas? A mãe, na tentativa de tranquilizá-lo, disse que poderia
ser um engano, um simples erro de conta, mas ele sabia que alguma coisa
não brilhava bem – era um experiente contador de estrelas e não erraria
por três vezes. Na noite seguinte, lá estava a postos, mais concentrado
do que nunca, para dar início à contagem. E o saldo desastroso: vinte
estrelas a menos. Decidiu passar a noite de guarda, para pegar no flagra
o ladrão que invadira sua galáxia. Não pregou o olho um segundo, nenhum
ladrão apareceu, mas na sua frente mais cinco estrelas desapareceram.
Foi então que percebeu que muitas piscavam rápido, sem parar; outras
mais lentamente. Estrelas morriam sob seus olhos e era preciso fazer
alguma coisa. Pegou a escada mais alta, e com uma caixa de lâmpadas
debaixo do braço, saiu para resolver o problema – um curto-circuito no
seu céu-quintal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário