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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Guardião de estrelas

Ficava por horas apoiado na janela do quarto antes de dormir. Não contava carneirinhos, contava estrelas. Uma a uma, com o dedo apontado, até onde a olho nu pudesse alcançar. Eram seis mil no total, mas contrariando a superstição, não tinha seis mil verrugas no dedo. Em noites nubladas, usava o telescópio, presente mais que aguardado que ganhara no Natal, e então a conta ultrapassava trinta mil os pontinhos brilhantes no céu. Não precisa dizer que existia um sonho de quando crescer virar astrônomo, e quando isso acontecesse descobriria enfim quantas estrelas, ao total, brilhavam no universo. Enquanto isso se auto-denominava “o guardião das estrelas” e só se deitava na cama quando tinha a certeza de que todas elas estavam lá, a postos no alto, vigiando seu sono. Em uma certa noite, uma surpresa. Contou três vezes, com e sem telescópio, e constatou que dez estrelas faltavam no seu pedaço de céu. Era uma noite de poucas nuvens. Estaria alguém roubando as estrelas? A mãe, na tentativa de tranquilizá-lo, disse que poderia ser um engano, um simples erro de conta, mas ele sabia que alguma coisa não brilhava bem – era um experiente contador de estrelas e não erraria por três vezes. Na noite seguinte, lá estava a postos, mais concentrado do que nunca, para dar início à contagem. E o saldo desastroso: vinte estrelas a menos. Decidiu passar a noite de guarda, para pegar no flagra o ladrão que invadira sua galáxia. Não pregou o olho um segundo, nenhum ladrão apareceu, mas na sua frente mais cinco estrelas desapareceram. Foi então que percebeu que muitas piscavam rápido, sem parar; outras mais lentamente. Estrelas morriam sob seus olhos e era preciso fazer alguma coisa. Pegou a escada mais alta, e com uma caixa de lâmpadas debaixo do braço, saiu para resolver o problema – um curto-circuito no seu céu-quintal.

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